Tradição da Folia de Reis em Corumbajuba acontece em julho e preserva rituais próprios

Anna Letícia Azevedo

Celebrada em julho por causa das chuvas na região, a festa mantém costumes únicos

Durante os dias 08 a 12 de julho foi celebrada a Folia de Reis do distrito de Corumbajuba, na zona rural de Orizona (GO), que se destaca por preservar com rigor uma tradição que une fé, devoção e costumes populares. Realizada anualmente na primeira quinzena de julho, a festa celebra a caminhada dos três Reis Magos até Belém, em louvor ao nascimento de Jesus Cristo.

No primeiro dia da edição de 2025, um momento de grande comoção marcou a comunidade: uma devota pagou uma promessa se deitando no chão para que todos os foliões passassem por cima dela. Após receber o diagnóstico de um câncer a devota aos Santos Reis fez um voto em prol de sua melhora, e recebeu a graça antes da folia deste ano, possibilitando que ela pagasse a promessa. O gesto começou com o sinal da cruz feito com o pé em forma de bênção, seguido pela passagem dos integrantes da folia, encerrando com o 1º capitão, Pedro de Paula  Miranda. “Eu sou o último porque enquanto todos passam eu ainda estou fazendo as preces e rezando pela pessoa que paga o voto”, explicou.

A data

Diferente da maioria das Folias de Reis, tradicionalmente celebradas em janeiro, em Corumbajuba a data foi transferida para julho. A mudança considera o período chuvoso no início do ano, que dificulta o acesso dos foliões às casas da zona rural devido às estradas de terra.

“Em janeiro é o tempo chuvoso, e para a gente aqui na fazenda é mais difícil. Por ter mudado, parece que facilitou bastante. Tanto para a gente que dá as comidas, que recebe em casa, como para aqueles que fazem caminhada”, afirma Ana Maria, mãe de uma das anfitriãs dos almoços da edição deste ano, moradora da zona rural.

A alteração no calendário também favorece o reencontro de moradores que vivem fora e aproveitam as férias para participar da festa. “Sempre a gente fica pensando lá, né? ‘Não, eu queria estar lá, eu queria estar lá.’ Quando dá oportunidade de vir, a gente vem”, relata Divina Gonçalves, moradora de Pires do Rio, a 36 km de Corumbajuba.

Proibição do consumo de bebidas alcoólicas

A Folia de Corumbajuba mantém particularidades que reforçam seu caráter religioso. Entre elas, a proibição do consumo de bebidas alcoólicas durante a folia, incluindo caminhadas, almoços e pousos. “Se for pensar que vai pra beber, com nois não vai não. Nós não vai pra isso, nós vai para rezar”, afirma o 1º capitão e embaixador da Folia, Pedro de Paula Miranda.

A estrela

Outro símbolo é a estrela que guia o grupo, representando a estrela que guiou os três reis magos até Belém. A foliã Mariana, de 22 anos, destaca sua importância: “Deus mostrou a estrela para os Santos Reis e, para mim, é uma luz no caminho para os foliões”, explica.

Mariana, Estrela da Folia de Santos Reis de Corumbajuba. Foto: Roger Martins
Maria de Lourdes, foliã da Folia de Santos Reis de Corumbajuba. Foto: Anna Letícia Azevedo

Respeito à reza

As demonstrações de respeito realizadas pelos foliões estão também em pequenos detalhes, como a retirada do chapéu em momentos específicos, como na chegada e saída das casas, durante as orações e quando o 1º capitão realiza as embaixadas. A foliã Maria de Lourdes, responsável por segurar os chapéus, explica: “É um sinal de respeito, né? É mais uma forma de demonstrar o respeito pelos Santos Reis e pela reza”, declara.

Os palhaços

Na Folia de Corumbajuba, dois personagens chamam a atenção e são sempre lembrados pela comunidade: os palhaços. Com trajes coloridos e máscaras, eles caminham um ao lado esquerdo e outro ao lado direito da fileira dos foliões, marcando presença com gestos simbólicos e uma função específica dentro da tradição.

Palhaço da Folia de Santos Reis de Corumbajuba. Foto: Roger Martins

Historicamente, os palhaços representam figuras responsáveis por garantir a segurança do trajeto por onde passariam os Santos Reis e o Menino Jesus. Na prática, assumem um papel de vigilância e preparação do caminho. “A função dos palhaços é ir na frente para conferir se estava tudo bem. Eles vão até os arcos para caçar um brinde oferecido pelo dono da casa”, explica Raoni, folião desde 2008, que atualmente participa da Folia caracterizado como palhaço. Para o folião vestir-se de palhaço é uma responsabilidade “O palhaço tem que estar atento para tudo que acontece na folia, tem que cuidar das crianças de tudo”, completou.

Outras tradições

Com práticas preservadas ao longo das décadas, a Folia de Reis de Corumbajuba continua reunindo moradores, familiares e devotos, reafirmando o sentido comunitário e espiritual que sustenta a celebração.

Entre os símbolos mais significativos está a bandeira branca, conhecida como “bandeira da paz”. Nela são fixadas imagens dos Santos Reis e fotos de devotos que pedem graças, proteção ou orações. Um costume respeitado por todos é que, se uma foto cair da bandeira durante a folia, ela não pode ser recolocada. Esse gesto é compreendido como o cumprimento de uma promessa ou voto. “Folia de Reis tem muitas coisas que é sagrada, não pode fazer errado, um voto que vai cumprir, fazer aquela promessa certo, eu acho que as pessoas que não conhecem a Folia tem que vim pra perto para participar, para conhecer e ver como é”, reforça o convite Raoni. 

A responsabilidade de carregar a bandeira é do alferes da Folia, que deve segurá-la no primeiro dia e na entrega final. No momento em que os foliões reverenciam a bandeira, o 1º capitão segura enquanto os participantes fazem a reverência e beijam o símbolo sagrado. Quando esse ritual ocorre dentro de uma residência, os últimos a demonstrar o gesto de respeito devem ser os anfitriões e moradores da casa, reforçando o papel central da fé e da hospitalidade em cada pouso.

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