Anna Letícia Azevedo
Famílias da zona rural reforçam laços de devoção e acolhimento durante a passagem dos foliões
Na quarta-feira (09) a Folia de Reis de Corumbajuba, em Orizona (GO), deu continuidade ao seu tradicional festejo com o segundo dia de celebrações. A caminhada teve início no pouso realizado na casa do casal Marcos e Maria Alvina, de onde os foliões seguiram rumo à zona rural após completarem a visita às casas da sede do distrito. Com fé, embaixadas e a estrela que guiou os Santos Reis, a folia avança unindo gerações em torno de uma tradição centenária.
Almoço reúne gerações
O almoço oferecido pelo casal Lauriana Aparecida e Aildo da Silva, em uma ação que simboliza o espírito de partilha e hospitalidade da Folia. “Desde o meu avô, a gente acompanha essa Folia. Meu avô era folião e hoje o ‘padrim’ Pedro é o 1º capitão”, destacou Lauriana, ao lado de familiares que se reuniram desde às cinco da manhã para preparar a refeição.
Para o casal o oferecer o almoço é uma realização, “A gente tá muito feliz de receber Santos Reis aqui em casa, graças a Deus é uma benção receber os foliões aqui. É um trem que a gente não tem como explicar, eu tô muito emocionada hoje, porque era meu sonho dá um almoço ou pouso nessa Folia”, afirmou Lauriana.
Entre panelas fumegantes e histórias emocionadas, a tradição também foi lembrada por Ana Maria, mãe da anfitriã: “Na casa da Lauriana é a primeira vez que damos o almoço, mas lá na minha já fiz isso duas vezes, e minha mãe já perdeu as contas. É uma tradição de família. A gente tem muita fé, é devoto dos Santos Reis e gosta muito de receber os foliões”.

A generosidade da família é acompanhada por uma organização que se repete ano após ano. “A gente já compra panelas grandes pensando nisso. E quando não fazemos em casa, ajudamos os vizinhos. É um trabalho coletivo”, explicou Aparecida, tia da Lauriana. Mesmo familiares que vivem em outras cidades, como Pires do Rio e Orizona, retornam especialmente para ajudar. “A folia é esse momento de união, reencontro e muita emoção”, completou Divina Gonçalves, também tia da anfitriã.
Pouso
Dona Terezinha, responsável pelo pouso e por oferecer o jantar para os foliões e comunidade nesta noite, rememora o marido falecido há sete anos, que era folião e a ensinou a acompanhar os ritos da festa, “Meu marido era folião e assim eu aprendi a acompanhar com ele, um ano antes dele falecer ele passou para o meu genro e hoje meu genro toca na folia”, contou.
A oito anos, mesmo diante da perda, Dona Terezinha não deixou a devoção enfraquecer. “Meu marido faleceu em maio e eu estava com um pouso marcado para julho. Muitas pessoas perguntaram como eu ia fazer, e eu falei: ‘eu vou fazer”, relembra. Com apoio da família e dos amigos, ela manteve o compromisso e preparou o jantar naquela ocasião, como repetiu o ato neste ano.
“Meu marido um ano antes de falecer passou para o meu genro um instrumento e ele começou tocar, e toca até hoje na folia, e eu sempre dou almoço dou pouso e com fé em Deus ainda vou dar uma festa da entrega”, declara dona Terezinha sobre a continuidade da tradição, e a herança viva que mantém a folia viva em Corumbajuba.
